1.
INTRODUÇÃO
O agente da toxoplasmose é o Toxoplasma gondii, protozoário
pertencente ao filo Apicomplexa, é um
parasita intracelular obrigatório. O T.
gondii pode ser encontrado em vários tecidos e células (exceto hemácias) e
líquidos orgânicos (saliva, leite, esperma, líquido peritoneal) (PRADO et al., 2011).
Pela primeira vez, em 1970, demonstrou-se
o ciclo sexuado de T. gondii no
intestino de gatos, e esclareceu-se que o parasita era um coccídeo produtor de
oocistos do tipo Isospora, ou seja,
com dois esporocistos, cada um desenvolvendo quatro esporozoítos (PRADO et al., 2011).
Os gatos domésticos e outros felídeos são
os únicos hospedeiros definitivos, mas muitas espécies de vertebrados servem
como hospedeiros intermediários (SILVA et
al., 2006).
Dependendo da
virulência da cepa, estado de imunidade da pessoa e da localização do parasito,
a toxoplasmose pode ser assintomática ou evoluir até a morte.
2.
DESENVOLVIMENTO
A toxoplasmose é uma zoonose, doença
infecciosa parasitária, muito frequente em várias espécies de animais (carneiro,
cabra, porco e aves) e no homem (hospedeiros intermediários) (LIBARDONI, 2018).
2.1.
O toxoplasma
Das fases de desenvolvimento do T. gondii, os taquizoítas apresentam
forma em “arco” ou “meia lua” que, por vezes torna-se arredondada. Medem 4 a 7
por 2 a 4 µm de diâmetro, sendo sua extremidade anterior mais afilada do que a
posterior. Seu núcleo, na maioria das vezes, é semicentral, localizado na
metade posterior. Os bradizoítas envoltos por uma membrana argirofílica formam
cistos de tamanho variável; os jovens podem medir 5 µm, possuindo 4
bradizoítas; os cistos mais velhos podem ter até 100 µm e conter centenas de bradizoítas
em seu interior. Após a ingestão dos bradizoítos encistados do T. gondii, os oocistos aparecem nas
fezes após 4 a 5 dias e continuam a ser excretados, frequentemente, em grandes
quantidades, por 3 a 20 dias. Esses oocistos esporulam em 2 a 4 dias, em
condições favoráveis, e tornam-se infectivos para todos os vertebrados (SILVA et al., 2006).
2.2.
Ciclo de vida
Os gatos são o ponto-chave da
epidemiologia da toxoplasmose, sendo os únicos hospedeiros definitivos do
parasito e transmissores de forma sexuada. Por eliminarem oocistos dos
parasitos pelas fezes, são a única fonte de infecção dos animais herbívoros. Os
oocistos são resistentes às condições ambientais e resultam da fase sexuada do
ciclo, que é limitada ao epitélio intestinal desses animais (SILVA et al., 2006).
2.3 Vias de transmissão
A infecção pelo T. gondii pode ocorrer por três vias principais:
- Fecal-oral: ingestão de
oocistos eliminados nas fezes de gatos, presentes na água contaminada, no solo,
areia, frutas e verduras. Os oocistos podem ser disseminados pelo ambiente por
meio de baratas, moscas e formigas. Cães com hábito de se esfregar em fezes de
gatos podem ter seus pelos contaminados com oocistos;
- Carnivorismo: pelo consumo de
carnes e produtos de origem animal (principalmente de suínos, caprinos e
ovinos) crus ou mal cozidos contendo cistos teciduais;
- Transplacentária: via circulação
materno-fecal, com passagem de taquizoítas presentes, em grande número, na
circulação materna durante a fase aguda da infecção (MITSUKA-BREGANÓ et al., 2010).
O homem ingere
oocistos maduros contendo esporozoítos ou cistos contendo bradizoítos, após
rápida passagem pelo epitélio intestinal (e diferenciação em taquizoítos)
invadirá várias células, dentro do vacúolo parasitófaro sofrerão sucessivas divisões
por endodiogenia, ruptura da célula hospedeira com liberação de novos
taquizoítos que irão invadir novas células (2 a 8 horas) provocando rápida
disseminação no organismo através da linfa ou sangue (fase aguda ou
proliferativa). A resposta imune do hospedeiro se dá pelo desaparecimento de
parasitos extracelulares do sangue, linfa e órgãos, ocorrendo a diminuição do
parasitismo (LIBARDONI, 2018).
Alguns parasitos
evoluem para formação de cistos nos tecidos (fase crônica) (pode durar meses ou
anos). No
homem, o período de incubação varia de 10 a 23 dias após a ingestão de carne
mal cozida, e de 5 a 20 dias após ingestão de oocistos (MITSUKA-BREGANÓ et al., 2010).
2.4 Sintomas e formas da doença
A maioria dos casos de toxoplasmose em
indivíduos imunocompetentes é assintomática.
As manifestações mais comuns são a linfadenopatia (afeta os nódulos linfáticos) e a astenia (perda ou diminuição da força física) sem febre. A linfadenopatia pode vir
acompanhada de febre, mal-estar, cefaleia, astenia, mialgia (dor muscular),
odinofagia (dor ao deglutir) e hepatoesplenomegalia (aumento do tamanho do fígado e do baço). Estes sintomas geralmente
duram algumas semanas, porém, a adenomegalia (aumento do tamanho dos gânglios
linfáticos) e a hepatoesplenomegalia podem durar meses (MITSUKA-BREGANÓ et al., 2010).
A patogenia na
espécie humana parece estar ligada a alguns fatores importantes, como cepa do
parasito, resistência da pessoa e o modo pelo qual ela se infecta. Entretanto, a transmissão
congênita é frequentemente a mais grave, e a toxoplasmose adquirida após o
nascimento pode apresentar uma evolução variável (LIBARDONI, 2018).
Diante da gravidade da doença congênita,
torna-se fundamental o início do pré-natal no primeiro trimestre da gestação,
possibilitando a identificação precoce dos casos agudos de toxoplasmose
gestacional. Ao se diagnosticar precocemente, a realização do tratamento tem
maiores chances de evitar ou reduzir sequelas para o recém-nascido (MARGONATO et al., 2007).
As consequências
da toxoplasmose materna para o feto dependerão: do grau de exposição do feto
aos toxoplasmas, da virulência da cepa, da capacidade dos anticorpos maternos
protegerem o feto
e do período da gestação (LIBARDONI,
2018).
Durante o primeiro trimestre da gestação,
a infecção pode levar à morte fetal. No segundo trimestre, pode ocasionar a
chamada Tétrade de Sabin, em que o feto apresenta retinocoroidite,
calcificações cerebrais, retardo mental ou perturbações neurológicas e
hidrocefalia, com macro ou microcefalia. Já no terceiro trimestre de gestação,
a criança pode nascer normal e apresentar evidências da doença como febre,
manchas pelo corpo, cegueira, em alguns dias, semanas ou meses após o parto. Em
crianças recém nascidas, a forma clínica é encontrada, sendo grave e
caracterizada por encefalite, icterícia, urticária e esplenomegalia, geralmente
associada com coriorretinite, hidrocefalia e microcefalia, com altas taxas de
morbidade e mortalidade (PRADO et al.,
2011).
2.5
Diagnóstico
laboratorial
Para o diagnóstico das infecções agudas, a
triagem sorológica é a mais indicada, tendo em vista que, na fase inicial, o
parasita ainda não pode ser identificado nos tecidos e secreções, o que torna
outros métodos, como o isolamento e identificação histológica do Toxoplasma gondii, pouco factíveis para
esse momento. O marcador sorológico mais frequentemente utilizado é o anticorpo
antitoxoplasma da classe IgM. No entanto, se alerta para a necessidade da
realização de exames confirmatórios, como o de avidez de IgG, devido à
frequência elevada de resultado falso-positivo de IgM (MARGONATO et al., 2007).
FIGURA
2: Fluxograma de diagnóstico IgG positivo.
Para a prevenção, gestantes devem evitar
comer carnes cruas, não devem limpar as caixas de areia de gatos e nem manter
contato com estes. A triagem de gestantes de risco soro-negativas e o seu
seguimento sorológico durante a gravidez para a detecção precoce de
soroconversão devem ser feitos. Assim como o exame pré-natal e acompanhamento
de todas as gestantes com ou sem linfadenopatia ou com história de aborto,
entre outras atitudes (PRADO et al.,
2011).
Para o público em geral, bem como também
para as gestantes, deve-se lavar as mãos ao manipular carne crua, evitar o
consumo de água não filtrada e de leite não pasteurizado, assim como de
alimentos expostos às moscas, baratas, formigas e outros insetos e evitar a
ingestão carnes crus (salames) e/ou mal passadas. Indica-se também lavar
cuidadosamente as tábuas de carne, superfície de pias e outros utensílios que
entraram em contato com a carne crua (cistos), verduras e/ou frutas (oocistos)
com água e sabão. É importante lavar bem as frutas e legumes que podem estar
sujas de terra contaminada e evitar contato com gatos ou com o solo ou, pelo
menos, usar luvas apropriadas durante a jardinagem, ao lidar com materiais
potencialmente contaminados com fezes de gatos Uma ótima medida a ser destacada
é lavar as mãos com água e sabão antes de mexer com carnes cruas, entre outras
medidas (PRADO et al., 2011).
FIGURA
3: Fluxograma de diagnóstico IgG negativo.
Desta forma, o parasita pode causar grande
destruição de células devido a sua própria ação ou pela hipersensibilidade
apresentada pelo hospedeiro. As manifestações no homem estão geralmente,
relacionadas a uma vulnerabilidade tissular especial associada a regeneração
lenta ou ausente. A infecção materna, embora inaparente, pode determinar lesões
destrutivas no feto (MITSUKA-BREGANÓ et
al., 2010).
3.
CONCLUSÃO
A toxoplasmose é uma infecção produzida
por um parasito intracelular, o Toxoplasma
gondii (T. gondii), apresenta alta taxa de distribuição mundial com elevado
registo de novos casos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Dados do ano de 2018, registram um surto
na cidade de Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul, onde 1.176 casos
foram notificados e 825 casos estavam sob suspeita (485 confirmados, 185
descartados e 155 em investigação). Entre
os pacientes com a doença confirmada, haviam 41 gestantes, sendo que foram
registrados dois óbitos fetais e dois abortos decorrentes da doença, além de
dois casos de toxoplasmose congênita (GUEDES, 2018).
Desta forma, ressalta-se a importância dos cuidados e da prevenção
com a toxoplasmose, sendo que a mesma apresenta distribuição mundial e
tem grande importância na saúde pública, principalmente pelas lesões causadas
em indivíduos imunocomprometidos e na infecção congênita, que corrobora com 40% dos casos da doença em recém
nascidos, os quais são decorrentes de mães que adquiriram a infecção durante a
gravidez.
4. Clique nos links e saiba mais...
http://www.cve.saude.sp.gov.br/htm/hidrica/Toxoplasma_gondii.htm
http://drauziovarella.com.br/letras/t/toxoplasmose/ http://www.medicina.ufmg.br/observaped/index.php/toxoplasmose-congenita-por-que-e-como-prevenir.html
5.
REFERÊNCIAS
GUEDES, Tiago.
Número de casos de toxoplasmose chega a 485 em Santa Maria, 2018.
Disponível em: <https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/numero-de-casos-de-toxoplasmose-chega-a-485-em-santa-maria.ghtml>. Acesso em: 13 de setembro de 2018.
LIBARDONI,
Karine Santos de Bona. Toxoplasmose.
25 mar.2018. 26 slides. Material apresentado para a disciplina de Parasitologia
Clínica no curso de Farmácia da URI-Santo Ângelo.
MARGONATO,
Fabiana Burdini. et al. Toxoplasmose na
gestação: diagnóstico, tratamento e importância de protocolo clínico, 2007.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbsmi/v7n4/a05v7n4.pdf>.
Acesso em: 13 de setembro de 2018.
MITSUKA-BREGANÓ,
Regina. et al. Toxoplasmose, 2010.
Disponível em:
<http://books.scielo.org/id/cdtqr/pdf/mitsuka-9788572166768-03.pdf>.
Acesso em: 12 de setembro de 2018.
MINISTÉRIO
DA SAÚDE - SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. Boletim Epidemiológico, 2012. Disponível em: <http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2014/julho/23/BE-2012-43--2---pag-12-a-16-Toxoplasmose.pdf>. Acesso em: 13 de setembro de 2018.
PRADO,
Aline Ambrogi Franco. et al. Toxoplasmose:
o que o profissional da saúde deve saber, 2011. Disponível em: <http://www.conhecer.org.br/enciclop/2011a/agrarias/toxoplasmose.pdf>.
Acesso em: 10 de setembro de 2018.
SILVA,
Francisco William Soares da. et al. Toxoplasmose:
uma revisão, 2006. Disponível em: <http://www.uece.br/cienciaanimal/dmdocuments/Artigo2.2006.2.pdf>.
Acesso em: 12 de setembro de 2018.
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