domingo, 11 de novembro de 2018

PREVENÇÃO E CUIDADOS COM A TOXOPLASMOSE

 Elaborado pelas acadêmicas do 8º semestre de Farmácia: Aline Pivetta, Diana Paula Grzibowski, Ingridi Flores Rambo, Meri Zaira Mascarello

1.                  INTRODUÇÃO

O agente da toxoplasmose é o Toxoplasma gondii, protozoário pertencente ao filo Apicomplexa, é um parasita intracelular obrigatório. O T. gondii pode ser encontrado em vários tecidos e células (exceto hemácias) e líquidos orgânicos (saliva, leite, esperma, líquido peritoneal) (PRADO et al., 2011).
Pela primeira vez, em 1970, demonstrou-se o ciclo sexuado de T. gondii no intestino de gatos, e esclareceu-se que o parasita era um coccídeo produtor de oocistos do tipo Isospora, ou seja, com dois esporocistos, cada um desenvolvendo quatro esporozoítos (PRADO et al., 2011).
Os gatos domésticos e outros felídeos são os únicos hospedeiros definitivos, mas muitas espécies de vertebrados servem como hospedeiros intermediários (SILVA et al., 2006).
Dependendo da virulência da cepa, estado de imunidade da pessoa e da localização do parasito, a toxoplasmose pode ser assintomática ou evoluir até a morte.

2.                  DESENVOLVIMENTO

A toxoplasmose é uma zoonose, doença infecciosa parasitária, muito frequente em várias espécies de animais (carneiro, cabra, porco e aves) e no homem (hospedeiros intermediários) (LIBARDONI, 2018).

2.1.             O toxoplasma

Das fases de desenvolvimento do T. gondii, os taquizoítas apresentam forma em “arco” ou “meia lua” que, por vezes torna-se arredondada. Medem 4 a 7 por 2 a 4 µm de diâmetro, sendo sua extremidade anterior mais afilada do que a posterior. Seu núcleo, na maioria das vezes, é semicentral, localizado na metade posterior. Os bradizoítas envoltos por uma membrana argirofílica formam cistos de tamanho variável; os jovens podem medir 5 µm, possuindo 4 bradizoítas; os cistos mais velhos podem ter até 100 µm e conter centenas de bradizoítas em seu interior. Após a ingestão dos bradizoítos encistados do T. gondii, os oocistos aparecem nas fezes após 4 a 5 dias e continuam a ser excretados, frequentemente, em grandes quantidades, por 3 a 20 dias. Esses oocistos esporulam em 2 a 4 dias, em condições favoráveis, e tornam-se infectivos para todos os vertebrados (SILVA et al., 2006).

2.2.            Ciclo de vida

Os gatos são o ponto-chave da epidemiologia da toxoplasmose, sendo os únicos hospedeiros definitivos do parasito e transmissores de forma sexuada. Por eliminarem oocistos dos parasitos pelas fezes, são a única fonte de infecção dos animais herbívoros. Os oocistos são resistentes às condições ambientais e resultam da fase sexuada do ciclo, que é limitada ao epitélio intestinal desses animais (SILVA et al., 2006).



   FIGURA 1: Ciclo de vida do Toxoplasma gondii. Fonte: Moura & Barbosa.




2.3             Vias de transmissão

A infecção pelo T. gondii pode ocorrer por três vias principais:

- Fecal-oral: ingestão de oocistos eliminados nas fezes de gatos, presentes na água contaminada, no solo, areia, frutas e verduras. Os oocistos podem ser disseminados pelo ambiente por meio de baratas, moscas e formigas. Cães com hábito de se esfregar em fezes de gatos podem ter seus pelos contaminados com oocistos;

- Carnivorismo: pelo consumo de carnes e produtos de origem animal (principalmente de suínos, caprinos e ovinos) crus ou mal cozidos contendo cistos teciduais;

- Transplacentária: via circulação materno-fecal, com passagem de taquizoítas presentes, em grande número, na circulação materna durante a fase aguda da infecção (MITSUKA-BREGANÓ et al., 2010).

O homem ingere oocistos maduros contendo esporozoítos ou cistos contendo bradizoítos, após rápida passagem pelo epitélio intestinal (e diferenciação em taquizoítos) invadirá várias células, dentro do vacúolo parasitófaro sofrerão sucessivas divisões por endodiogenia, ruptura da célula hospedeira com liberação de novos taquizoítos que irão invadir novas células (2 a 8 horas) provocando rápida disseminação no organismo através da linfa ou sangue (fase aguda ou proliferativa). A resposta imune do hospedeiro se dá pelo desaparecimento de parasitos extracelulares do sangue, linfa e órgãos, ocorrendo a diminuição do parasitismo (LIBARDONI, 2018).

Alguns parasitos evoluem para formação de cistos nos tecidos (fase crônica) (pode durar meses ou anos). No homem, o período de incubação varia de 10 a 23 dias após a ingestão de carne mal cozida, e de 5 a 20 dias após ingestão de oocistos (MITSUKA-BREGANÓ et al., 2010).



2.4             Sintomas e formas da doença

A maioria dos casos de toxoplasmose em indivíduos imunocompetentes é assintomática.  As manifestações mais comuns são a linfadenopatia (afeta os nódulos linfáticos) e a astenia (perda ou diminuição da força física) sem febre. A linfadenopatia pode vir acompanhada de febre, mal-estar, cefaleia, astenia, mialgia (dor muscular), odinofagia (dor ao deglutir) e hepatoesplenomegalia (aumento do tamanho do fígado e do baço). Estes sintomas geralmente duram algumas semanas, porém, a adenomegalia (aumento do tamanho dos gânglios linfáticos) e a hepatoesplenomegalia podem durar meses (MITSUKA-BREGANÓ et al., 2010).
A patogenia na espécie humana parece estar ligada a alguns fatores importantes, como cepa do parasito, resistência da pessoa e o modo pelo qual ela se infecta. Entretanto, a transmissão congênita é frequentemente a mais grave, e a toxoplasmose adquirida após o nascimento pode apresentar uma evolução variável (LIBARDONI, 2018).
Diante da gravidade da doença congênita, torna-se fundamental o início do pré-natal no primeiro trimestre da gestação, possibilitando a identificação precoce dos casos agudos de toxoplasmose gestacional. Ao se diagnosticar precocemente, a realização do tratamento tem maiores chances de evitar ou reduzir sequelas para o recém-nascido (MARGONATO et al., 2007).
As consequências da toxoplasmose materna para o feto dependerão: do grau de exposição do feto aos toxoplasmas, da virulência da cepa, da capacidade dos anticorpos maternos protegerem o feto e do período da gestação (LIBARDONI, 2018).
Durante o primeiro trimestre da gestação, a infecção pode levar à morte fetal. No segundo trimestre, pode ocasionar a chamada Tétrade de Sabin, em que o feto apresenta retinocoroidite, calcificações cerebrais, retardo mental ou perturbações neurológicas e hidrocefalia, com macro ou microcefalia. Já no terceiro trimestre de gestação, a criança pode nascer normal e apresentar evidências da doença como febre, manchas pelo corpo, cegueira, em alguns dias, semanas ou meses após o parto. Em crianças recém nascidas, a forma clínica é encontrada, sendo grave e caracterizada por encefalite, icterícia, urticária e esplenomegalia, geralmente associada com coriorretinite, hidrocefalia e microcefalia, com altas taxas de morbidade e mortalidade (PRADO et al., 2011).

2.5            Diagnóstico laboratorial

Para o diagnóstico das infecções agudas, a triagem sorológica é a mais indicada, tendo em vista que, na fase inicial, o parasita ainda não pode ser identificado nos tecidos e secreções, o que torna outros métodos, como o isolamento e identificação histológica do Toxoplasma gondii, pouco factíveis para esse momento. O marcador sorológico mais frequentemente utilizado é o anticorpo antitoxoplasma da classe IgM. No entanto, se alerta para a necessidade da realização de exames confirmatórios, como o de avidez de IgG, devido à frequência elevada de resultado falso-positivo de IgM (MARGONATO et al., 2007). 



FIGURA 2: Fluxograma de diagnóstico IgG positivo.


Para a prevenção, gestantes devem evitar comer carnes cruas, não devem limpar as caixas de areia de gatos e nem manter contato com estes. A triagem de gestantes de risco soro-negativas e o seu seguimento sorológico durante a gravidez para a detecção precoce de soroconversão devem ser feitos. Assim como o exame pré-natal e acompanhamento de todas as gestantes com ou sem linfadenopatia ou com história de aborto, entre outras atitudes (PRADO et al., 2011).

Para o público em geral, bem como também para as gestantes, deve-se lavar as mãos ao manipular carne crua, evitar o consumo de água não filtrada e de leite não pasteurizado, assim como de alimentos expostos às moscas, baratas, formigas e outros insetos e evitar a ingestão carnes crus (salames) e/ou mal passadas. Indica-se também lavar cuidadosamente as tábuas de carne, superfície de pias e outros utensílios que entraram em contato com a carne crua (cistos), verduras e/ou frutas (oocistos) com água e sabão. É importante lavar bem as frutas e legumes que podem estar sujas de terra contaminada e evitar contato com gatos ou com o solo ou, pelo menos, usar luvas apropriadas durante a jardinagem, ao lidar com materiais potencialmente contaminados com fezes de gatos Uma ótima medida a ser destacada é lavar as mãos com água e sabão antes de mexer com carnes cruas, entre outras medidas (PRADO et al., 2011). 

FIGURA 3: Fluxograma de diagnóstico IgG negativo.

Desta forma, o parasita pode causar grande destruição de células devido a sua própria ação ou pela hipersensibilidade apresentada pelo hospedeiro. As manifestações no homem estão geralmente, relacionadas a uma vulnerabilidade tissular especial associada a regeneração lenta ou ausente. A infecção materna, embora inaparente, pode determinar lesões destrutivas no feto (MITSUKA-BREGANÓ et al., 2010).


3.                  CONCLUSÃO
A toxoplasmose é uma infecção produzida por um parasito intracelular, o Toxoplasma gondii (T. gondii), apresenta alta taxa de distribuição mundial com elevado registo de novos casos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Dados do ano de 2018, registram um surto na cidade de Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul, onde 1.176 casos foram notificados e 825 casos estavam sob suspeita (485 confirmados, 185 descartados e 155 em investigação). Entre os pacientes com a doença confirmada, haviam 41 gestantes, sendo que foram registrados dois óbitos fetais e dois abortos decorrentes da doença, além de dois casos de toxoplasmose congênita (GUEDES, 2018).
Desta forma, ressalta-se a importância dos cuidados e da prevenção com a toxoplasmose, sendo que a mesma apresenta distribuição mundial e tem grande importância na saúde pública, principalmente pelas lesões causadas em indivíduos imunocomprometidos e na infecção congênita, que corrobora com 40% dos casos da doença em recém nascidos, os quais são decorrentes de mães que adquiriram a infecção durante a gravidez.

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5.                  REFERÊNCIAS

 

GUEDES, Tiago. Número de casos de toxoplasmose chega a 485 em Santa Maria, 2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/numero-de-casos-de-toxoplasmose-chega-a-485-em-santa-maria.ghtml>. Acesso em: 13 de setembro de 2018.


LIBARDONI, Karine Santos de Bona. Toxoplasmose. 25 mar.2018. 26 slides. Material apresentado para a disciplina de Parasitologia Clínica no curso de Farmácia da URI-Santo Ângelo.

MARGONATO, Fabiana Burdini. et al. Toxoplasmose na gestação: diagnóstico, tratamento e importância de protocolo clínico, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbsmi/v7n4/a05v7n4.pdf>. Acesso em: 13 de setembro de 2018.

MITSUKA-BREGANÓ, Regina. et al. Toxoplasmose, 2010. Disponível em: <http://books.scielo.org/id/cdtqr/pdf/mitsuka-9788572166768-03.pdf>. Acesso em: 12 de setembro de 2018.

MINISTÉRIO DA SAÚDE - SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. Boletim Epidemiológico, 2012. Disponível em: <http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2014/julho/23/BE-2012-43--2---pag-12-a-16-Toxoplasmose.pdf>. Acesso em: 13 de setembro de 2018.

PRADO, Aline Ambrogi Franco. et al. Toxoplasmose: o que o profissional da saúde deve saber, 2011. Disponível em: <http://www.conhecer.org.br/enciclop/2011a/agrarias/toxoplasmose.pdf>. Acesso em: 10 de setembro de 2018.

SILVA, Francisco William Soares da. et al. Toxoplasmose: uma revisão, 2006. Disponível em: <http://www.uece.br/cienciaanimal/dmdocuments/Artigo2.2006.2.pdf>. Acesso em: 12 de setembro de 2018.

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