quarta-feira, 3 de outubro de 2018

CONHECENDO A FEBRE CHIKUNGUNYA


                               

Juliana Jaroszewski[1]
Jurema Jablonski[2]





[1] Acadêmica do curso de farmácia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Campus de Santo Ângelo
[2] Acadêmica do curso de farmácia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Campus de Santo Ângelo




1 INTRODUÇÃO

Semelhante a dengue a febre Chikungunya é uma doença viral transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, pertencente à família Togaviridae, (transmitido) por meio da picada da fêmea infectada do mosquito. (OMS, 2017).
A palavra Chikungunya é um termo africano e significa “dobrado, curvado” e se refere a um dos principais sintomas dessa doença como dor e inflamação articulares fazendo com que os pacientes não se movam e permaneçam encurvados. (BRASIL, 2017).
A chikungunya teria sido descrita pela primeira vez em 1952, em Newala, distrito de Tanganica, no leste da África. (CASTRO; LIMA; NASCIMENTO, 2006). Tida como uma doença da África e Ásia, a partir de 2005 o vírus espalhou-se rapidamente pelas ilhas do sudoeste do Oceano Indico. Em 2007, inúmeros surtos por CHIKV foram observados em países ocidentais. Chegou ao Caribe em 2013, e em 2014, espalhou-se para áreas continentais das Américas. (AZEVEDO; OLIVEIRA; VASCONCELOS, 2015).
Segundo dado do Ministério da Saúde, a partir de 2014 foi identificado o primeiro caso de transmissão do vírus no Brasil. Mais adiante, foram registrados surtos pelo CHIKV no país.
“O Ministério da Saúde divulgou que em 2015 foram notificados 3.135 casos suspeitos de febre chikungunya nos estados do Amapá e Bahia”. (AZEVEDO; OLIVEIRA; VASCONCELOS, 2015, p.3).

2  MANISFESTAÇÕES CLÍNICAS

Baseado em relatos de epidemias na década de 70, ocorridos na África do Sul, se dá reconhecimento clínico da febre e da infecção por CHIKV. (AZEVEDO; OLIVEIRA; VASCONCELOS, 2015). Taís relatos apontaram um período curto de 2 a 6 dias de incubação, podendo variar de 1 a 12 dias.
Estudos mostram que até 70% dos indivíduos infectados pelo CHIKV apresentam infecção sintomática. São valores altos e significativos se comparados a outras viroses. Consequentemente, o número de pessoas precisando de atendimento também aumentará o que vai ocasionar uma sobrecarga nos serviços da saúde. (BRASIL, 2017).
A febre Chikungunya apresenta três fases: aguda, subaguda e crônica.

Fase aguda 
“Após o período de incubação, inicia-se a fase aguda ou febril, que dura até o décimo quarto dia”. (BRASIL, 2017). É comum febre abrupta e intensa artralgia nessa fase. Em menor frequência, pode-se observar cefaleia, dor difusa nas costas, mialgia, náusea, vômito, poliartrite, erupção cutânea e conjuntivite. A febre pode ser contínua ou intermitente.
Ainda, de acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2017), os sintomas articulares são simétricos, podendo os pacientes ficar incapacitados devido à dor e ter febre maior quanto maior a idade do paciente.


Figura 1: Lesões articulares de pacientes com chikungunya. Evolução da mesma paciente no 1º e 5º dias.
Fonte: foto de Kleber Giovani Luz (apud BRASIL, 2017).

Alguns pacientes evoluem dessa fase aguda para o início da fase subaguda, com duração de até 3 meses. Outros sintomas apresentados são a hiperemia da conjuntiva.
Figura 2: Aspecto clínico chikungunya. Fonte: SVS/MS (apud BRASIL, 2017).

Figura 3: Hiperemia da conjuntiva observada na fase aguda
Foto: Kleber Giovani Luz (apud BRASIL, 2017).

Fase subaguda       
Passados os dez primeiros dias, uma parte dos pacientes poderá sentir uma melhora no estado de saúde em geral, na diminuição da febre. Por outro lado, pode haver persistência ou agravamento da artralgia principalmente poliartrite distal, exacerbação da dor articular e tenossinovite hipertrófica. (BRASIL, 2017).

Figura 4: Pacientes na fase subaguda de chikungunya. Fonte: (BRASIL, 2017).

Segundo orientações do Ministério da Saúde (BRASIL, 2017, p. 13), poderá verificar-se nesta fase “cansaço, recorrência do prurido generalizado e exantema maculopapilar, além do surgimento de lesões purpúricas vesiculares e bolhosas”. Doenças vasculares periféricas, fadiga e sintomas depressivos são relatados por alguns pacientes que os desenvolveram. Caso os sintomas persistirem por mais de três meses, após o início da doença, estará instalada a fase crônica.
Fase crônica
Persistindo os sintomas por mais de três meses, principalmente dor articular e musculoesquelética e neuropática pode se caracterizar a fase crônica. Entre os estudos e conforme as Recomendações da Sociedade Brasileira de Reumatologia para diagnóstico e tratamento da febre ckikungunya a prevalência da fase crônica é muito variável. Alguns fatores de risco para cronificação estão associados à idade acima de 40 anos, sexo feminino, diagnóstico de doença articular prévia como osteoartrite e presença de comorbidade.
Além dessas manifestações, outras podem ser descritas nessa fase, tais como fadiga, dor de cabeça, coceira, perda de cabelo, exantema, bursite(inflamação no ombro), inflamação nos dedos, diarreias, dormência das pernas e braços, dor neuropática, distúrbios do sono, alterações de memória, déficit de atenção, alterações do humor, turvação visual e depressão (BRASIL, 2017).

3 DIAGNÓSTICO

Para diagnosticar o CHIKV podem ser realizados testes laboratoriais de forma direta, através do isolamento viral e da pesquisa do RNA viral em diferentes amostras clínicas, ou de forma indireta através da pesquisa de anticorpos específicos. (BRASIL, 2017).
Diagnóstico diferencial
Verificam-se sintomas típicos de Chikungunya também em outras doenças virais especialmente na Dengue, conforme quadro abaixo:

Quadro 2: Diagnóstico diferencial Dengue x Zika x Chikungunya.
Sinais/Sintomas
Dengue
Zika
Chikungunya
Febre
Duração
> 38°C
4 a 7 dias
Sem febre ou subfebril (≤ 38°C)
1-2 dias subfebril
Febre alta > 38°C
2-3 dias
Rash
Frequência
(rachadura na pele)
Surge a partir do quarto dia
30% a 50% dos casos
Surge no primeiro ou segundo dia
90% a 100% dos casos
Surge 2-5 dia
50% dos casos
Milagia - dor muscular   (frequência)
+++
++
+
Artralgia - dor articular   (frequência)
+
++
+++
Intensidade da dor articular
Leve
Leve/Moderada
Moderada/Intensa
Edema da articulação
Raro
Frequente e leve intensidade
Frequente e de moderada a intenso
Conjuntivite
Raro
50% a 90% dos casos
30%
Cefaleia
+++
++
++
Hipertrofia ganglionar
+
+++
++
Discrasia hemorrágica
++
ausente
+
Risco de morte
+++
+*
++
Acometimento Neurológico
+
+++
++
Leucopenia
+++
+++
+++
Linfopenia
Incomum
Incomum
Frequente
Trombocitopenia
+++
Ausente (raro)
++
Fonte: Brito (2016 apud BRASIL, 2017).


4 ORIENTAÇÕES QUANTO AO TRATAMENTO

Não há, no momento, tratamento antiviral específico nem vacina preventiva para a febre chikungunya, mesmo aumentando os números de casos da doença. Por isso, o tratamento sintomático tradicional é utilizado. (CASTRO; LIMA; NASCIMENTO, 2016).
Dessa forma, tratar a dor, controlar a febre, recomendar repouso, evitar aparecimento de lesões articulares constitui-se o principal objetivo do tratamento. Recomenda-se, aos pacientes a adotarem cuidados gerais e fazerem uso de  medicamentos como antipiréticos e analgésicos.
Conforme orientações da Sociedade Brasileira de Reumatologia, em sua revista 2017 o uso de ácido acetilsalicílico não é recomendado devido ao risco de hemorragia e em alguns pacientes, o risco de desenvolvimento de síndrome de Reye.


5 PREVENÇÃO

Na Revista Saúde Pública, Azevedo, Oliveira e Vasconcelos (2015), afirma que a prevenção é feita por intermédio de medidas de proteção individual e pelo controle vetorial. A maneira explosiva que a doença vem se manifestando e um tratamento ou droga específica ausente, a vacinação deveria ser estratégica mais efetiva na proteção da população. Entretanto, até o momento não se dispõe de vacina efetiva e licenciada, mesmo que estudos sobre essa possibilidade tenham iniciado em 1967.
Dessa forma, resta conscientizar o paciente quando ao uso de roupas adequadas para cobrir extremidades e evitar contaminação com outros vetores; mantê-lo repousando sob a proteção de mosquiteiros e principalmente, retirar água parada de itens espalhados nas casas e arredores.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS  

AZEVEDO, Raimundo; OLIVEIRA, Consuelo; VASCONCELOS, Pedro. Risco de Chikungunya para o Brasil. Rev. Saúde Pública, São Paulo,  v. 49,  2015.


BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Chikungunya: Manejo Clínico. Secretaria de Vigilância em Saúde, Secretaria de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2017.

CASTRO, Anita Perpetua Carvalho Rocha deLIMA, Rafaela Araújo; NASCIMENTO, Jedson dos Santos. Chikungunya: a visão do clínico de dor. Rev. Dor, São Paulo, v. 17, n. 4, 2016. 

 

HONÓRIO, Nildimar et al. Chikungunya: uma arbovirose em estabelecimento e expansão no Brasil. RJ: 2015.

 

MARQUES, C. D. L. et al.  Recomendações da Sociedade Brasileira de Reumatologia para diagnóstico e tratamento da febre chikungunya. Rev bras reumatol, v. 57, n. S 2, p. S421–S437, 2017.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE - OMS. Chikungunya. Ficha informativa. Abril, 2017. 

 

REVISTA BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA. Recomendações Da Sociedade Brasileira de Reumatologia para diagnóstico e tratamento da febre chikungunya. 2017.

      
      


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