Elaborado pelas acadêmicas do 8º de Farmácia: Bruna
Oliveira, Dayane
D. Nascimento, Jaqueline
de Oliveira, Tais Diel Seidel.
1.
INTRODUÇÃO
A Artrite reumatoide é uma doença autoimune, inflamatória,
sistêmica e crônica, caracterizada por sinovite periférica e por inúmeras manifestações
extra-articulares (BRASIL, 2013).
As articulações são constituídas, basicamente, por cartilagem,
a qual é preenchida com liquido lubrificante. Automaticamente, as articulações
devem apresentar-se lubrificadas para que suas partes constituintes possam realizar movimentos sem que decorram desgastes, o que, no
corpo humano, é garantido pelo tecido conjuntivo denso ou cartilagem articular. Este tecido está presente nas extremidades dos ossos de uma articulação, com alto grau de mobilidade, na forma de uma camada envolvente de 1 a 7 mm de espessura (MINERVI, 2006).
Dentro
da artilação há duas partes, a parte interna que é responsável pela produção do líquido e a externa compõe-se de tecido conjuntivo composto de colágeno (MINERVI,
2006).
Figura 1: Estrutura básica de uma articulação sinovial
(adaptada de MINERVI, 2006).
Doenças inflamatórias nas articulações, como a artrite reumatóide,
iniciam-se no interior da articulação e, secundariamente danificam a
cartilagem, a cápsula articular do osso, ou seja, a artrite é um termo usado
para descrever diversas doenças que causam danos às articulações do corpo
(figura 2) (BÉRTOLO, 2008) . A artrite reumatóide acomete preferencialmente as articulações periféricas, como mãos e pés) predominando no gênero feminino e na faixa etária dos 30 aos 50
anos (GOLDMAN & SCHAFER, 2014).
Figura 2: Radiografia das mãos,
pessoa com artrite reumatóide (adaptada de Bértolo, 2008)
Figura 3: Radiografia das mãos,
pessoa com artrite reumatóide (adaptada de Bértolo, 2008)
Ao longo de anos a artrite
reumatóide foi apontada como uma doença de caráter benigno, entretanto estudos
mais recentes mostraram que, devido a seus efeitos danosos em reação à mobilidade
física e a capacidade funcional, assim como a persistência do processo
inflamatório (aterosclerose acelerada), pacientes com artrite reumatóide tem
sua expectativa de vida consideravelmente diminuída quando comparada com a
população em geral. Cerca de 50% dos indivíduos com artrite reumatóide ficam
impedidos de trabalhar em 10 anos a partir do início da doença, o que retrata significativo
impacto econômico e social. Nesse contexto, um entendimento maior das origens
da artrite reumatóide, bem como dos avanços no arsenal terapêutico, torna-se necessário (GOELDNER, et al. 2011).
2.
PATOLOGIA
Apesar das causas de a artrite reumatoide ainda não ser
inteiramente conhecida, muito se evoluiu no assunto, nos últimos anos. No
início, a investigação do aumento da incidência de artrite reumatóide entre
familiares, principalmente entre gêmeos monozigóticos (gêmeos do mesmo sexo),
apontava um componente genético na origem da doença. Com o avanço dos estudos,
foi constatado o antígeno leucocitário humano (human leukocyte antigen - HLA), tido
como principal fator genético no seguimento dessa doença (BRASIL, 2013).
Diversos alelos de HLA-DRB1 vêm sendo associados a
artrite reumatóide em populações variadas. Em estudo brasileiro com pacientes
em sua maioria com herança mista, os principais fatores de risco para o
desenvolvimento de artrite reumatóide foram a presença dos alelos HLA-DRB1 SE
(shared epitope - epitopo compartilhado) e a detecção de anticorpos contra
peptídios citrulinados cíclicos (anti-CCP). No entanto, variações fenotípicas e
de incidência apontam para fatores ambientais que, além da predisposição
genética, contribuem para o surgimento da doença, tais como tabagismo e
infecções periodontais. (BRASIL,
2013).
A artrite reumatóide é extremamente
variável quanto à apresentação clínica, à gravidade e evolução. Sua forma
clínica mais frequente é a poliartrite simétrica de pequenas e grandes
articulações, ou seja, várias lesões em ambos os lados do corpo, com natureza
crônica e destrutiva, podendo levar a relevante limitação funcional,
comprometendo a capacidade laboral e a qualidade de vida, ocasionando em
significativo impacto pessoal e social (BRASIL,
2013).
A associação de artrite reumatóide a diminuição
de células de defesa e aumento do baço, que ocorre mais nos casos de artrite
reumatóide de longa evolução, é chamada de Síndrome de Felty. Dados de um
estudo brasileiro de pacientes com artrite reumatóide inicial propõem que a
apresentação clínica mais comum seja a poliartrite aguda (70%) com sinovite
persistente nas mãos (91%) e rigidez matinal prolongada (mais de 2 horas) (BRASIL, 2013).
A rigidez matinal tende a ser o sintoma
inicial e costuma ser um indício de doença ativa. As articulações das mãos são
acometidas em mais de 90% dos casos (BRASIL,
2013).
A
artrite reumatoide juvenil é o nome dado pelo Colégio Americano de Reumatologia
à doença articular inflamatória que se inicia antes dos 16 anos de idade com
duração de pelo menos 6 semanas. Ocorrem três tipos de artrite reumatóide
juvenil: de início sistêmico (doença de Still), de início poliarticular e de
início pauciarticular. O tipo artrite reumatóide juvenil de início
poliarticular evidência dois subtipos: com fator reumatoide negativo e com
fator reumatoide positivo. Somente o subtipo poliarticular com FR positivo
assemelha-se clinicamente a artrite reumatóide do adulto (BRASIL, 2013).
3. DIAGNÓSTICO
O diagnóstico necessita da
associação de uma série de sintomas e sinais clínicos, achados laboratoriais e
radiográficos (LAURINDO et al., 2004).
A instrução para o diagnóstico é
baseada nos critérios de classificação do Colégio Americano de Reumatologia (ACR/EULAR 2010).
Deve ser elaborado com atenção, considerando-se artrites secundárias a
infecções, neoplasias e artrite psoriásica, dentre outras;
·
A titulação de fator reumatóide é um exame
considerável, com sensibilidade e especificidade limitadas na artrite
reumatóide inicial;
·
A titulação de anticorpos contra peptídios
citrulinados cíclicos (anti-CCP) é exame com sensibilidade semelhante à do
fator reumatóide, porém com especificidade superior;
·
A classificação por meio de marcadores de
atividade inflamatória deve ser solicitada na suspeita clínica de artrite
reumatóide;
·
Radiografia simples é utilizada para avaliação
diagnóstica e prognóstica de artrite reumatóide, e a ultrassonografia e
ressonância magnética podem ser requeridas na artrite reumatóide inicial;
Dessa forma, o diagnóstico de
pacientes com artrite reumatóide deve ser feito considerando-se o tempo de
evolução da artrite, a presença de auto anticorpos, a elevação de provas
inflamatórias e as alterações compatíveis em exames de imagem, tal como
descrito nos critérios de classificação de ACR/EULAR 2010.
Os sinais e sintomas estão
associados com a rigidez matinal com duração superior a 60 minutos, fenômenos
de “gel” (rigidez prolongada após repouso) e melhora da dor e da rigidez com
atividade sugerem a presença de doença inflamatória (Artrite Reumatóide)
(GOLDMAN & SCHAFER, 2014).
O que difere da breve rigidez
observada na osteoartrite, geralmente de 5 a 10 minutos, na ocorrencia de
doenças inflamatórias a rigidez tem duração maior (REUMATOLOGIA et al., 2013).
O arranjo do comprometimento
articular é um dos aspectos mais importantes do diagnóstico das doenças
musculoesqueléticas. Monoartrite refere-se a sintomas em uma única articulação;
oligoartrite (ou pauciartrite) a sintomas em duas a quatro articulações e
poliartrite a comprometimento em cinco ou mais articulações (GOLDMAN &
SCHAFER, 2014).
No que diz respeito a artrite
reumatóide de articulações as áreas mais afetadas são punho, e dedos das mãos e
dos pés (REUMATOLOGIA et al., 2013).
Geralmente, a artrite reumatoide
inflama várias articulações em um padrão simétrico, ou seja, ambos os lados do
corpo são afetados. Os primeiros sintomas podem ser bem sutis. Os pacientes
podem desenvolver nódulos em diversas partes do corpo. Estes são denominados
nódulos reumatoides (figura 3) (REUMATOLOGIA et al., 2013).
Figura 3: Nódulos reumatóides, adaptado.
O
fator reumatóide é um auto
anticorpo contra a IgG,
que por sua vez é um
anticorpo. O fator reumatóide e a IgG se
aderem para formar imunocomplexos que contribuem para ocorrencia de doenças reumatológicas,
pois os complexos imunes se depositam nas articulações
o que acarreta em processo inflamatório via ativação do sistema complemento e,
posterior, quimiotaxia de leucócitos nas articulações. O fator reumatóide deve
ser medido através de exame de
sangue em pacientes com suspeita de artrite
reumatóide (LAURINDO et al., 2004).
Os critérios de envolvimento
articular, sorologia, provas de fase aguda e duração dos sintomas devem estar
presentes por pelo menos 6 semanas (REUMATOLOGIA et al., 2013).
Alguns
aspectos clínicos e laboratoriais estão relacionados à progressão mais rápida
da destruição articular e devem ser identificados a partir do momento do
diagnóstico. Os fatores de mau prognóstico são sexo feminino, tabagismo, baixo
nível socioeconômico, início da doença em idade mais precoce, fator reumatóide
ou anti-CCP em títulos elevados, provas inflamatórias (velocidade de
hemossedimentação ou proteína C reativa) persistentemente elevadas, grande
número de articulações edemaciadas, manifestações extra articulares, elevada
atividade inflamatória da doença, presença precoce de erosões na evolução da doença
e presença do epítopo compartilhado, este um exame não utilizado na rotina
assistencial (BRASIL, 2013).
4.
TRATAMENTO
DA ARTRITE REUMATÓIDE
O tratamento da artrite reumatóide
insere educação do paciente e de sua família, a terapia medicamentosa, fisioterapia,
apoio psicossocial, terapia ocupacional e abordagens cirúrgicas. As terapias
medicamentosas incluem uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs),
corticosteroides, drogas
modificadoras do curso da doença (DMCD) sintéticas e biológicas e drogas
imunossupressoras (MOTA et al., 2013). O
tratamento de artrite reumatóide deve ser iniciado o mais breve possível, uma
vez que a terapia medicamentosa
intensiva instituída precocemente previne danos estruturais (erosões),
melhorando a capacidade funcional (BRASIL, 2013).
A avaliação da atividade da doença
deve ser feita periodicamente até que o paciente entre em remissão da doença.
Sugere-se a repetição de exames radiográficos de mão, punhos e pés a cada ano
para acompanhamento evolutivo das erosões ósseas (GOELDNER, et al.
2011).
Algumas intervenções educacionais podem ser de grande valia na
implementação de protocolos clínicos para essa doença (BRASIL, 2013).
5.
CONCLUSÃO
A artrite reumatóide é uma doença
autoimune e debilitante, cuja etiologia exata ainda permanece desconhecida. O
caráter agressivo da artrite reumatóide ressalta a importância de seu
reconhecimento precoce, o que aumenta significativamente as perspectivas de
melhora clínica e remissão.
A dificuldade em estabelecer um diagnóstico
precoce com base nas manifestações clinicas da doença ressalta o valor da
caracterização do auto anticorpos como marcadores precoces e a evolução de
doenças autoimunes como a artrite reumatóide. Esse auto anticorpos são atualmente
considerados ferramentas de valor relevante tanto na prática clínica como na
triagem de populações de risco.
Como observado encontra-se uma
infinidade de tratamentos medicamentosos disponíveis, uns com mecanismos de
alívio de dor e sintomas e, outros que podem modificar a evolução da doença. No
entanto cabe ressaltar a necessidade de uma abordagem
multifatorial e interdisciplinar, pois cada vex é mais claro que a prescrição medicamentosa
isolada não consegue controlar de maneira satisfatória a doença, dentre isto a
educação do paciente é fundamental e a ação do profissional farmacêutico pode
auxiliar o paciente no desenvolvimento de seu tratamento.
6.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACR/EULAR CLASSIFICATION CRITERIA FOR RA. 2010 Rheumatoid Arthritis Classification Criteria. Revista Arthritis & Rheumatism. Vol. 62, No. 9, September 2010, pp 2569–2581.
BÉRTOLO, M. B. Como diagnosticar e tratar a artrite
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BRASIL. Portaria SAS/MS nº 710, de 27 de junho de 2013, retificada em 06 de
março de 2014 e 10 de junho de 2014. Aprova o Protocolo Clínico e
Diretrizes Terapêuticas da Artrite Reumatoide. Disponível em:< http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2014/junho/13/Retifica----o-Portaria-710-de-2013-atual.pdf>. Acesso em:
25/09/2018.
GOLDMAN, L.; SCHAFER, A.I. Cecil
Medicina. 24 ed., vol. 2., Ed. Elsevier: Rio de Janeiro, 2014.
GOELDNER et
al. Artrite Reumatóide: uma visão atual.
Revista Bras. Patol. Med. Lab, v. 47, n. 47, p. 495-503.
LAURINDO, et
al. Artrite reumatóide: diagnóstico e tratamento. Revista Brasileira de Reumatologia, v. 44, n. 6, p.
435–442, dez. 2004.
MINERVE, E. Avaliação da fonoforese em pacientes com
artrite reumatóide. Disponível em:< http://files.dirppg.ct.utfpr.edu.br/cpgei/Ano_2006/dissertacoes/Dissertacao_409_2006.pdf>.
Acesso em: 29/09/2018.
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