quarta-feira, 28 de novembro de 2018

CONHECENDO UM POUCO MAIS SOBRE HIV

ELABORADO PELOS ACADÊMICOS DO 8º SEMESTRE DE FARMÁCIA:
Christian Schreiner, Daniela Stocker, Jétson Almeida, Leticia Marconcine.

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) foi reconhecida em meados de 1981 nos EUA, a partir da identificação de um número elevado de pacientes adultos do sexo masculino, homossexuais e moradores de São Francisco ou Nova York, que apresentavam sarcoma de Kaposi, pneumonia por Pneumocystis carinii e comprometimento do sistema imune, o que levou à conclusão de que se tratava de uma nova doença, ainda não classificada, de etiologia provavelmente infecciosa e transmissível (STOLLMEIER, 2004).
Segundo a Organização mundial da saúde (OMS), 36,7 milhões de pessoas viviam com HIV até o fim de 2016, com 1,8 milhões novos casos de infecção pelo vírus em todo o mundo. Sendo que, o HIV continua sendo um grande problema de saúde pública mundial, com uma carga de mais de 35 milhões de mortes até o momento. Em 2016, um milhão de pessoas morreram por causas relacionadas ao HIV em todo o mundo (BRASIL,2017).
O vírus da imunodeficiência humana (HIV, sigla em inglês) ataca o sistema imunológico e faz com que o sistema de defesa das pessoas fique prejudicado e não dê conta de infecções e alguns tipos de câncer. Como o vírus destrói e prejudica a função das células imunes, os indivíduos vivendo com o vírus se tornam gradualmente imunodeficientes. O estágio de imunodeficiência é medido pela contagem de células T-CD4. A imunodeficiência resulta em um aumento da suscetibilidade a várias infecções e doenças ao contrario de pessoas com um sistema imune saudável, que conseguem combater as infecções (BRASIL,2017).
Em 1988, o Ministério da Saúde iniciou com a disponibilização de tratamento para as principais doenças que acometem os pacientes com Aids, chamadas doenças oportunistas. E a partir de 1991, passou a disponibilizar também a terapia anti-retroviral na rede pública de saúde. A partir de 1996, com a Lei 9313, a terapia antiretroviral passou a ser de fornecimento obrigatório pelo Sistema Único de Saúde (STOLLMEIER, 2004).
O Ministério da Saúde possui Guias de orientação que definem as condutas básicas para o diagnostico adequado, acompanhamento das pessoas que vivem com o HIV e a Aids, caso tenha interesse acesse o link http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_adesao_tratamento_hiv.pdf.

Prevenção e Cuidados


            O conhecimento da população sobre as formas de prevenir a contaminação pelo vírus HIV é a medida mais eficaz. Não existe grupos de risco, mas sim pessoas com comportamento de risco.
            A prevenção tem sido, desde o início da epidemia, uma questão crucial para os programas de controle da Aids. Naqueles primeiros tempos, era grande o desconhecimento acerca da doença e sua distribuição e poucos os subsídios para guiar ações preventivas. Desde então, esse quadro sofreu profundas alterações. Houve um aumento substantivo do grau de conhecimento científico acerca do vírus, suas interações com o organismo, sua epidemiologia e sobre os principais determinantes sociais dessa epidemia.
            A principal forma de transmissão do HIV é por via sexual (PEREIRA et al. 2014). Sendo também o compartilhamento de seringas e agulhas, principalmente para administração de drogas injetáveis ilícitas, um meio que ainda acarreta grande número de contágios (FERREIRA et al. 2012). Sabe-se também que na presença de outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) o risco de transmissão do HIV é quatro a cinco vezes maior (PEREIRA et al. 2014).
            Outro meio de contágio é através de transfusão sanguínea, visto que no Brasil a triagem de doadores de sangue por testes de biologia molecular não era rotineiramente empregada, isso abria a possibilidade de que o doador estivesse em janela imunológica, não sendo detectado o vírus e, desta forma, transmitindo-o (Neto et al. 2009).

  Figura 1: Formas de transmissão do vírus HIV.

As modernas terapias antiretrovirais, quando associadas a uma informação extensiva, democrática e sustentada para o conjunto da sociedade e a serviços de saúde preparados, equipados e igualmente acessíveis ao conjunto dos cidadãos, têm determinado o fim da cruel equação “infecção = morte”, que marcou o início da epidemia. Uma imensa quantidade de pessoas vivendo com Aids recuperou plenamente, ou quase, sua capacidade de interagir, produzir, amar, ter prazer, etc. Novos infectados têm podido conviver com sua condição de soropositividade sem que isso chegue a afetar o mais essencial de seus projetos e estilos de vida. Uma geração inteira está chegando à adolescência vivendo com o HIV.
Há a necessidade de políticas públicas que tornem possível a realização de diagnóstico precoce da infecção pelo HIV, uma vez que muitos pacientes somente procuram assistência em fase avançada, tendo risco de progressão para a SIDA de acordo os níveis de CD4 e carga viral (Tibúrcio 2010). Um dos adventos mais utilizados nos serviços públicos atualmente é a oferta de testes rápidos anti-HIV, que detectam a presença de anticorpos no sangue ou fluído oral (Werson et al. 2013).
A terapia antirretroviral (TARV) tem por objetivo diminuir a morbidade e mortalidade dos pacientes vivendo com HIV (PVHIV), melhorando a qualidade e a expectativa de vida, e não erradicar a infecção pelo HIV. Além do impacto clínico favorável, o início mais precoce da TARV vem sendo demonstrado como ferramenta importante na redução da transmissão do HIV. Todavia, deve-se considerar a importância da adesão e o risco de efeitos adversos no longo prazo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
A política brasileira de enfrentamento ao HIV/aids reconhece a importância de uma prevenção combinada pois nenhuma intervenção de prevenção isolada é suficiente para reduzir novas infecções, e que diferentes fatores de risco de exposição, transmissão e infecção operam, de forma dinâmica, em diferentes condições sociais, econômicas, culturais e políticas. Como o próprio nome diz, a “prevenção combinada” sugere o uso “combinado” de métodos preventivos, de acordo com as possibilidades e escolhas de cada indivíduo, sem excluir ou substituir um a outro (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013).
            No Brasil, para os casos em início de tratamento, o esquema inicial preferencial deve ser a associação de dois ITRN/ITRNt – lamivudina (3TC) e tenofovir (TDF) – associados ao inibidor de integrase (INI) – dolutegravir (DTG). Exceção a esse esquema deve ser observada para os casos de coinfecção TB-HIV, Mulheres vivendo com o vírus, com possibilidade de engravidar e gestantes (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).

Considerações Finais
O maior desafio quanto a prevenção é a informação adequada da população, estando diretamente ligada a educação em saúde, principalmente com os comportamentos de risco. Tal educação deve ser iniciada com profissionais de saúde bem preparados no intuito de aconselhar usuários quando estes procurarem pelo serviço. Para as pessoas já com diagnóstico de HIV é importante que o paciente compreenda o modo de transmissão da infecção, a importância do acompanhamento regular e a adesão ao tratamento.
Espera-se que este estudo possa informar sobre a doença e contribuir para o desenvolvimento de práticas de cuidados em saúde.


Referências

ALMEIDA, Amanda Ruas; FEDERIGE, Marco Aurélio Ferreira. INCIDÊNCIA DO VÍRUS HIV EM UM MUNICÍPIO DA GRANDE SÃO PAULO NO ANO DE 2014. Augusto Guzzo Revista Acadêmica, São Paulo, n. 17, p. 272-282, july 2016. ISSN 2316-3852. Disponível em: <http://fics.edu.br/index.php/augusto_guzzo/article/view/334>. Acessado em: 04 oct. 2018. doi: https://doi.org/10.22287/ag.v1i17.334.


AYRES, J.R.C.M. Educational practices and the prevention of HIV/Aids: lessons learned and current challenges, Interface _ Comunic, Saúde, Educ, v.6, n.11, p.11-24, 2002. Disponível em : http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832002000200002. Acessado em: 30 set.2018.

MINISTERIO DA SAUDE.; Protocolo Clínico E Diretrizes Terapêuticas Para Manejo Da Infecção Pelo Hiv Em Adultos, Brasília-DF. 2013.

MINISTERIO DA SAUDE.; Protocolo Clínico E Diretrizes Terapêuticas Para Manejo Da Infecção Pelo Hiv Em Adultos, Brasília-DF. 2018.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OPAS). Folha informativa - HIV/aids, Brasília, 2017. Disponivel em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5666:folha-informativa-hiv-aids&Itemid=812. Acessado em: 30 set. 2018.

STOLLMEIER, D. M. Atenção farmacêutica aos pacientes pediátricos portadores de infecção pelo HIV e seus cuidadores. Florianópolis 2004. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/87465/207493.pdf?sequence=1&isAllowed=y Acessado em: 30 set. 2018.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

CONHECENDO O LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO


Elaborado pelos acadêmicos do 8º Semestre de Farmácia: Alexandre Ferreira, Andressa Dias da Silva, Caroline Martins, Nicoly Cavalin Batista
Revisão professor: Tiago Bittencourt de Oliveira.



O que é lúpus?
O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença inflamatória, causada por um desequilíbrio do sistema imunológico, o responsável por defender o organismo das agressões externas por vírus e bactérias, por exemplo. No lúpus, a defesa imunológica do organismo se vira contra os próprios tecidos como pele, articulações, fígado, coração, pulmão, rins e cérebro1,3.

O que significa o nome lúpus?
“Lúpus” significa lobo em latim. Diversas são as explicações para a origem do nome. Uma delas é a de que o nome deriva da Idade Média, assim chamada porque as lesões na face são parecidas com dentadas e arranhaduras feitas por lobos. Em 1895, um médico canadense caracterizou o envolvimento dos vários tecidos do corpo no quadro da doença e adicionou a palavra “sistêmico” ao nome1,4.

Há predisposição para apresentar lúpus?
O LES tem prevalência em pacientes do sexo feminino, tendo uma relação de 9 mulheres afetadas para cada 1 homem afetado. A prevalência de idade está entre os 15 e 45 anos. No Brasil, os casos entre brancos e negros é equivalente1,2.

Quais os sintomas?
O LES é uma doença crônica, e os períodos de atividade da doença são intercalados por períodos mais sintomáticos, e períodos em que o paciente apresenta pouco ou nenhum sintoma1.
Os sintomas dependem do órgão afetado e variam de doente para doente. Os sintomas podem ser ligeiros ou intensos, temporários ou permanentes. O LES afeta principalmente as articulações, a pele (figura 2), as células e os vasos sanguíneos, as membranas serosas do coração e pulmões, os rins e o sistema nervoso2.
Os sinais e sintomas do LES incluem: febre, manchas na pele, vermelhidão no nariz e nas maçãs do rosto, formando uma imagem semelhante às asas de uma borboleta (figura 1), fotossensibilidade, pequenas feridas na boca e no nariz (aftose), dor nas articulações, mal-estar, dificuldade em respirar, palpitações, tosse seca, cefaleias, convulsões, depressão, ansiedade, alterações nas células do sangue2.
          Figura 1. Eritema malar, semelhante a borboleta. Fonte: Sociedade Brasileira de Reumatologia, 2013.

As queixas podem surgir isoladamente ou em conjunto. As manifestações mais comuns são fadiga, febre, emagrecimento, perda de apetite, sensibilidade fácil da pele à exposição solar (fotossensibilidade), lesões na pele e articulações (dores/inchaço). A doença pode envolver outros órgãos como o rim, o coração ou o sistema nervoso central (cérebro). Estes sintomas podem ocorrer ao mesmo tempo ou de forma sequencial. Existem períodos em que o doente não apresenta qualquer sintoma ou queixa o que podem durar semanas, meses ou anos2.

                   Figura 2. Lesão eritematosa do lúpus. Fonte: Sociedade Brasileira de Reumatologia, 2013.

A pessoa com lúpus necessita de algum cuidado especial?

Sim. Os principais são: evitar exposição ao sol; evitar fumar, principalmente em uso do medicamento hidroxicloroquina, pois o fumo reduz sua ação; realizar exercícios; ter uma alimentação rica em cálcio para evitar osteoporose associada ao uso de corticóides1,5.

O lúpus tem cura?
Não. O lúpus exige tratamento cuidadoso, e as pessoas que realizam o tratamento adequadamente tem condições de levar uma vida normal. Pessoas que não realizam tratamento adequado acabam tendo sérias complicações, muitas vezes, incompatíveis com a vida. O LES não é uma doença contagiosa, infecciosa ou maligna4.

Qual o tratamento medicamentoso?
O tratamento medicamentoso deve ser individualizado para cada paciente e depende dos órgãos ou dos sistemas acometidos e sua gravidade. Independentemente do órgão ou do sistema afetado, o uso contínuo de antimaláricos, preferencialmente do sulfato de hidroxicloroquina, é indicado com a finalidade de reduzir a atividade da doença e tentar poupar o uso de corticóides. Em alguns casos pode-se associar metotrexato5.
Na prática, em pacientes que evoluem com artrite crônica, em uma ou duas articulações, não-responsivos a tratamento medicamentoso antes proposto, é possível fazer infiltração intra-articular com glicocorticóides, que geralmente apresentam boa resposta5.
            Em casos de síndromes neuropsiquiátricas relacionadas ao lúpus, o tratamento deverá ser dirigido ao tipo de manifestação apresentada5.
Fonte: Hospital Geral de Goiânia, 2013.

REFERÊNCIAS

1. GALINDO, C.V.F.; VEIGA, R.K.A. Características clínicas e diagnósticas do lúpus eritematoso sistêmico: uma revisão. Revista Eletrônica de Farmácia. 2010; 7(4): 46-58.

2.BECK, S.T.; SILVA, J.C.N.; SCHIMIDT, S.; FLECK, J.; SANTOS, R.S.; Taxa de probabilidade como guia de interpretação do FAN-HEp-2 na pesquisa de autoanticorpos no lúpus eritematoso sistêmico. J Bras Patol Med Lab. v 45, n 4, p. 275-283, 2009.

3. CARNEIRO, A.C.A. Considerações sobre Lúpus Eritematoso Sistêmico. Universidade Estadual Paulista. Dissertação.  Araçatuba: 2013.

4. NARCISO, L. Manual informativo para o doente com Lúpus. Sociedade Portuguesa de Reumatologia: 2014. Disponível em: https://www.spreumatologia.pt/upload/_ManualLupus_SPR.pdf. Acesso em 21.09.2018.

5. BORBA, E.F.; BRENOL, J.C.T.; LATORRE, L.C, et al. Consenso de Lúpus Eritematoso Sistêmico. Rev Bras Reum. 2008; 48(4):196-207.
6. Sociedade Brasileira de Reumatologia. Lúpus Eritematoso Sistêmico. 2015. Disponível em: https://www.bancodasaude.com/info-saude/lupus-eritematoso-sistemico/. Acesso em 03.10.2018.

7.  Hospital Geral de Goiânia. HGG realiza ação para orientação sobre Lúpus. 2013. Disponível em: http://www.idtech.org.br/principal.asp?edoc=conteudo&secaoid=168&subsecaoid=168&conteudoid=6705. Acesso em 03.10.2018.

domingo, 11 de novembro de 2018

CONHECENDO A ARTRITE REUMATÓIDE


Elaborado pelas acadêmicas do 8º de Farmácia: Bruna Oliveira, Dayane D. Nascimento, Jaqueline de Oliveira, Tais Diel Seidel.

1.      INTRODUÇÃO


A Artrite reumatoide é uma doença autoimune, inflamatória, sistêmica e crônica, caracterizada por sinovite periférica e por inúmeras manifestações extra-articulares (BRASIL, 2013).
As articulações são constituídas, basicamente, por cartilagem, a qual é preenchida com liquido lubrificante. Automaticamente, as articulações devem apresentar-se lubrificadas para que suas partes constituintes possam realizar movimentos sem que decorram desgastes, o que, no corpo humano, é garantido pelo tecido conjuntivo denso ou cartilagem articular. Este tecido está presente nas extremidades dos ossos de uma articulação, com alto grau de mobilidade, na forma de uma camada envolvente de 1 a 7 mm de espessura (MINERVI, 2006).
            Dentro da artilação há duas partes, a parte interna que é responsável pela produção do líquido  e a externa compõe-se de tecido conjuntivo composto de colágeno (MINERVI, 2006).


Figura 1: Estrutura básica de uma articulação sinovial (adaptada de MINERVI, 2006).

Doenças inflamatórias nas articulações, como a artrite reumatóide, iniciam-se no interior da articulação e, secundariamente danificam a cartilagem, a cápsula articular do osso, ou seja, a artrite é um termo usado para descrever diversas doenças que causam danos às articulações do corpo (figura 2) (BÉRTOLO, 2008) . A artrite reumatóide acomete preferencialmente as articulações periféricas, como mãos e pés) predominando no gênero feminino e na faixa etária dos 30 aos 50 anos (GOLDMAN & SCHAFER, 2014).


Figura 2: Radiografia das mãos, pessoa com artrite reumatóide (adaptada de Bértolo, 2008)




Figura 3: Radiografia das mãos, pessoa com artrite reumatóide (adaptada de Bértolo, 2008)

             Ao longo de anos a artrite reumatóide foi apontada como uma doença de caráter benigno, entretanto estudos mais recentes mostraram que, devido a seus efeitos danosos em reação à mobilidade física e a capacidade funcional, assim como a persistência do processo inflamatório (aterosclerose acelerada), pacientes com artrite reumatóide tem sua expectativa de vida consideravelmente diminuída quando comparada com a população em geral. Cerca de 50% dos indivíduos com artrite reumatóide ficam impedidos de trabalhar em 10 anos a partir do início da doença, o que retrata significativo impacto econômico e social. Nesse contexto, um entendimento maior das origens da artrite reumatóide, bem como dos avanços no arsenal terapêutico, torna-se necessário (GOELDNER, et al. 2011).

2.      PATOLOGIA

Apesar das causas de a artrite reumatoide ainda não ser inteiramente conhecida, muito se evoluiu no assunto, nos últimos anos. No início, a investigação do aumento da incidência de artrite reumatóide entre familiares, principalmente entre gêmeos monozigóticos (gêmeos do mesmo sexo), apontava um componente genético na origem da doença. Com o avanço dos estudos, foi constatado o antígeno leucocitário humano (human leukocyte antigen - HLA), tido como principal fator genético no seguimento dessa doença (BRASIL, 2013).
 Diversos alelos de HLA-DRB1 vêm sendo associados a artrite reumatóide em populações variadas. Em estudo brasileiro com pacientes em sua maioria com herança mista, os principais fatores de risco para o desenvolvimento de artrite reumatóide foram a presença dos alelos HLA-DRB1 SE (shared epitope - epitopo compartilhado) e a detecção de anticorpos contra peptídios citrulinados cíclicos (anti-CCP). No entanto, variações fenotípicas e de incidência apontam para fatores ambientais que, além da predisposição genética, contribuem para o surgimento da doença, tais como tabagismo e infecções periodontais. (BRASIL, 2013).

            A artrite reumatóide é extremamente variável quanto à apresentação clínica, à gravidade e evolução. Sua forma clínica mais frequente é a poliartrite simétrica de pequenas e grandes articulações, ou seja, várias lesões em ambos os lados do corpo, com natureza crônica e destrutiva, podendo levar a relevante limitação funcional, comprometendo a capacidade laboral e a qualidade de vida, ocasionando em significativo impacto pessoal e social (BRASIL, 2013).
         A associação de artrite reumatóide a diminuição de células de defesa e aumento do baço, que ocorre mais nos casos de artrite reumatóide de longa evolução, é chamada de Síndrome de Felty. Dados de um estudo brasileiro de pacientes com artrite reumatóide inicial propõem que a apresentação clínica mais comum seja a poliartrite aguda (70%) com sinovite persistente nas mãos (91%) e rigidez matinal prolongada (mais de 2 horas) (BRASIL, 2013).
         A rigidez matinal tende a ser o sintoma inicial e costuma ser um indício de doença ativa. As articulações das mãos são acometidas em mais de 90% dos casos (BRASIL, 2013).
            A artrite reumatoide juvenil é o nome dado pelo Colégio Americano de Reumatologia à doença articular inflamatória que se inicia antes dos 16 anos de idade com duração de pelo menos 6 semanas. Ocorrem três tipos de artrite reumatóide juvenil: de início sistêmico (doença de Still), de início poliarticular e de início pauciarticular. O tipo artrite reumatóide juvenil de início poliarticular evidência dois subtipos: com fator reumatoide negativo e com fator reumatoide positivo. Somente o subtipo poliarticular com FR positivo assemelha-se clinicamente a artrite reumatóide do adulto (BRASIL, 2013).
           

3.      DIAGNÓSTICO

            O diagnóstico necessita da associação de uma série de sintomas e sinais clínicos, achados laboratoriais e radiográficos (LAURINDO et al., 2004).
            A instrução para o diagnóstico é baseada nos critérios de classificação do Colégio Americano de Reumatologia (ACR/EULAR 2010).
            Deve ser elaborado com atenção, considerando-se artrites secundárias a infecções, neoplasias e artrite psoriásica, dentre outras;
·         A titulação de fator reumatóide é um exame considerável, com sensibilidade e especificidade limitadas na artrite reumatóide inicial;
·         A titulação de anticorpos contra peptídios citrulinados cíclicos (anti-CCP) é exame com sensibilidade semelhante à do fator reumatóide, porém com especificidade superior;
·         A classificação por meio de marcadores de atividade inflamatória deve ser solicitada na suspeita clínica de artrite reumatóide;
·         Radiografia simples é utilizada para avaliação diagnóstica e prognóstica de artrite reumatóide, e a ultrassonografia e ressonância magnética podem ser requeridas na artrite reumatóide inicial;
            Dessa forma, o diagnóstico de pacientes com artrite reumatóide deve ser feito considerando-se o tempo de evolução da artrite, a presença de auto anticorpos, a elevação de provas inflamatórias e as alterações compatíveis em exames de imagem, tal como descrito nos critérios de classificação de ACR/EULAR 2010.
            Os sinais e sintomas estão associados com a rigidez matinal com duração superior a 60 minutos, fenômenos de “gel” (rigidez prolongada após repouso) e melhora da dor e da rigidez com atividade sugerem a presença de doença inflamatória (Artrite Reumatóide) (GOLDMAN & SCHAFER, 2014).
            O que difere da breve rigidez observada na osteoartrite, geralmente de 5 a 10 minutos, na ocorrencia de doenças inflamatórias a rigidez tem duração maior (REUMATOLOGIA et al., 2013).
            O arranjo do comprometimento articular é um dos aspectos mais importantes do diagnóstico das doenças musculoesqueléticas. Monoartrite refere-se a sintomas em uma única articulação; oligoartrite (ou pauciartrite) a sintomas em duas a quatro articulações e poliartrite a comprometimento em cinco ou mais articulações (GOLDMAN & SCHAFER, 2014).
            No que diz respeito a artrite reumatóide de articulações as áreas mais afetadas são punho, e dedos das mãos e dos pés (REUMATOLOGIA et al., 2013).
            Geralmente, a artrite reumatoide inflama várias articulações em um padrão simétrico, ou seja, ambos os lados do corpo são afetados. Os primeiros sintomas podem ser bem sutis. Os pacientes podem desenvolver nódulos em diversas partes do corpo. Estes são denominados nódulos reumatoides (figura 3) (REUMATOLOGIA et al., 2013).


Figura 3: Nódulos reumatóides, adaptado.

            O fator reumatóide é um auto anticorpo contra a IgG, que por sua vez é um anticorpo. O fator reumatóide e a IgG se aderem para formar imunocomplexos que contribuem para ocorrencia de doenças reumatológicas, pois os complexos imunes se depositam nas articulações o que acarreta em processo inflamatório via ativação do sistema complemento e, posterior, quimiotaxia de leucócitos nas articulações. O fator reumatóide deve ser medido através de exame de sangue em pacientes com suspeita de artrite reumatóide (LAURINDO et al., 2004).
            Os critérios de envolvimento articular, sorologia, provas de fase aguda e duração dos sintomas devem estar presentes por pelo menos 6 semanas (REUMATOLOGIA et al., 2013).
            Alguns aspectos clínicos e laboratoriais estão relacionados à progressão mais rápida da destruição articular e devem ser identificados a partir do momento do diagnóstico. Os fatores de mau prognóstico são sexo feminino, tabagismo, baixo nível socioeconômico, início da doença em idade mais precoce, fator reumatóide ou anti-CCP em títulos elevados, provas inflamatórias (velocidade de hemossedimentação ou proteína C reativa) persistentemente elevadas, grande número de articulações edemaciadas, manifestações extra articulares, elevada atividade inflamatória da doença, presença precoce de erosões na evolução da doença e presença do epítopo compartilhado, este um exame não utilizado na rotina assistencial (BRASIL, 2013).

4. TRATAMENTO DA ARTRITE REUMATÓIDE

            O tratamento da artrite reumatóide insere educação do paciente e de sua família, a terapia medicamentosa, fisioterapia, apoio psicossocial, terapia ocupacional e abordagens cirúrgicas. As terapias medicamentosas incluem uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), corticosteroides, drogas modificadoras do curso da doença (DMCD) sintéticas e biológicas e drogas imunossupressoras (MOTA et al., 2013). O tratamento de artrite reumatóide deve ser iniciado o mais breve possível, uma vez que a terapia medicamentosa intensiva instituída precocemente previne danos estruturais (erosões), melhorando a capacidade funcional (BRASIL, 2013).
            A avaliação da atividade da doença deve ser feita periodicamente até que o paciente entre em remissão da doença. Sugere-se a repetição de exames radiográficos de mão, punhos e pés a cada ano para acompanhamento evolutivo das erosões ósseas (GOELDNER, et al. 2011).
Algumas intervenções educacionais podem ser de grande valia na implementação de protocolos clínicos para essa doença (BRASIL, 2013).

5.      CONCLUSÃO
            A artrite reumatóide é uma doença autoimune e debilitante, cuja etiologia exata ainda permanece desconhecida. O caráter agressivo da artrite reumatóide ressalta a importância de seu reconhecimento precoce, o que aumenta significativamente as perspectivas de melhora clínica e remissão.
            A dificuldade em estabelecer um diagnóstico precoce com base nas manifestações clinicas da doença ressalta o valor da caracterização do auto anticorpos como marcadores precoces e a evolução de doenças autoimunes como a artrite reumatóide. Esse auto anticorpos são atualmente considerados ferramentas de valor relevante tanto na prática clínica como na triagem de populações de risco.
            Como observado encontra-se uma infinidade de tratamentos medicamentosos disponíveis, uns com mecanismos de alívio de dor e sintomas e, outros que podem modificar a evolução da doença. No entanto cabe ressaltar a necessidade de uma abordagem multifatorial e interdisciplinar, pois cada vex é mais claro que a prescrição medicamentosa isolada não consegue controlar de maneira satisfatória a doença, dentre isto a educação do paciente é fundamental e a ação do profissional farmacêutico pode auxiliar o paciente no desenvolvimento de seu tratamento.

6.      REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACR/EULAR CLASSIFICATION CRITERIA FOR RA. 2010 Rheumatoid Arthritis Classification Criteria. Revista Arthritis & Rheumatism. Vol. 62, No. 9, September 2010, pp 2569–2581.

BÉRTOLO, M. B. Como diagnosticar e tratar a artrite reumatóide. Rev. Grupo Edi. Moreira JR. Disponível em:< http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=3949>. Acesso em: 02/11/2018.

BRASIL. Portaria SAS/MS nº 710, de 27 de junho de 2013, retificada em 06 de março de 2014 e 10 de junho de 2014. Aprova o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Artrite Reumatoide. Disponível em:< http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2014/junho/13/Retifica----o-Portaria-710-de-2013-atual.pdf>. Acesso em: 25/09/2018.

GOLDMAN, L.; SCHAFER, A.I. Cecil Medicina. 24 ed., vol. 2., Ed. Elsevier: Rio de Janeiro, 2014.

GOELDNER et al. Artrite Reumatóide: uma visão atual. Revista Bras. Patol. Med. Lab, v. 47, n. 47, p. 495-503.

LAURINDO, et al. Artrite reumatóide: diagnóstico e tratamento. Revista Brasileira de Reumatologia, v. 44, n. 6, p. 435–442, dez. 2004.

MINERVE, E. Avaliação da fonoforese em pacientes com artrite reumatóide. Disponível em:< http://files.dirppg.ct.utfpr.edu.br/cpgei/Ano_2006/dissertacoes/Dissertacao_409_2006.pdf>. Acesso em: 29/09/2018.