Juliana Jaroszewski[1]
Jurema Jablonski[2]
[1] Acadêmica do curso de farmácia da
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Campus de
Santo Ângelo
[2]
Acadêmica do curso de farmácia da
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Campus de
Santo Ângelo
1 INTRODUÇÃO
Semelhante a dengue a febre Chikungunya é uma doença viral
transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, pertencente à família Togaviridae,
(transmitido) por meio da picada da fêmea infectada do mosquito. (OMS, 2017).
A palavra Chikungunya é um termo africano e significa
“dobrado, curvado” e se refere a um dos principais sintomas dessa doença como
dor e inflamação articulares fazendo com que os pacientes não se movam e
permaneçam encurvados. (BRASIL, 2017).
A chikungunya teria sido descrita pela primeira vez em
1952, em Newala, distrito de Tanganica, no leste da África. (CASTRO; LIMA;
NASCIMENTO, 2006). Tida como uma doença da África e Ásia, a partir de 2005 o
vírus espalhou-se rapidamente pelas ilhas do sudoeste do Oceano Indico. Em
2007, inúmeros surtos por CHIKV foram observados em países ocidentais. Chegou
ao Caribe em 2013, e em 2014, espalhou-se para áreas continentais das Américas.
(AZEVEDO; OLIVEIRA; VASCONCELOS, 2015).
Segundo dado do Ministério da Saúde, a partir de 2014 foi
identificado o primeiro caso de transmissão do vírus no Brasil. Mais adiante,
foram registrados surtos pelo CHIKV no país.
“O Ministério da Saúde divulgou que em 2015 foram
notificados 3.135 casos suspeitos de febre chikungunya nos estados do Amapá e
Bahia”. (AZEVEDO; OLIVEIRA; VASCONCELOS, 2015, p.3).
2 MANISFESTAÇÕES
CLÍNICAS
Baseado em relatos de epidemias na década de 70, ocorridos
na África do Sul, se dá reconhecimento clínico da febre e da infecção por CHIKV.
(AZEVEDO; OLIVEIRA; VASCONCELOS, 2015). Taís relatos apontaram um período curto
de 2 a 6 dias de incubação, podendo variar de 1 a 12 dias.
Estudos mostram que até 70% dos indivíduos infectados pelo
CHIKV apresentam infecção sintomática. São valores altos e significativos se
comparados a outras viroses. Consequentemente, o número de pessoas precisando
de atendimento também aumentará o que vai ocasionar uma sobrecarga nos serviços
da saúde. (BRASIL, 2017).
A febre Chikungunya apresenta três fases: aguda, subaguda e
crônica.
Fase aguda
“Após o período de incubação, inicia-se a fase aguda ou
febril, que dura até o décimo quarto dia”. (BRASIL, 2017). É comum febre
abrupta e intensa artralgia nessa fase. Em menor frequência, pode-se observar
cefaleia, dor difusa nas costas, mialgia, náusea, vômito, poliartrite, erupção
cutânea e conjuntivite. A febre pode ser contínua ou intermitente.
Ainda, de acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2017),
os sintomas articulares são simétricos, podendo os pacientes ficar
incapacitados devido à dor e ter febre maior quanto maior a idade do paciente.
Figura 1: Lesões
articulares de pacientes com chikungunya. Evolução da mesma paciente no 1º e 5º dias.
Fonte:
foto de Kleber Giovani Luz (apud BRASIL, 2017).
Alguns pacientes evoluem dessa fase aguda para o início da
fase subaguda, com duração de até 3 meses. Outros sintomas apresentados são a
hiperemia da conjuntiva.
Figura 2: Aspecto clínico chikungunya. Fonte: SVS/MS (apud
BRASIL, 2017).
Figura 3: Hiperemia da conjuntiva observada na
fase aguda
Foto:
Kleber Giovani Luz (apud BRASIL, 2017).
Fase subaguda
Passados os dez primeiros dias, uma parte dos pacientes
poderá sentir uma melhora no estado de saúde em geral, na diminuição da febre.
Por outro lado, pode haver persistência ou agravamento da artralgia
principalmente poliartrite distal, exacerbação da dor articular e tenossinovite
hipertrófica. (BRASIL, 2017).
Figura 4: Pacientes na fase subaguda de chikungunya. Fonte: (BRASIL, 2017).
Segundo orientações do Ministério da Saúde (BRASIL, 2017,
p. 13), poderá verificar-se nesta fase “cansaço, recorrência do prurido
generalizado e exantema maculopapilar, além do surgimento de lesões purpúricas
vesiculares e bolhosas”. Doenças vasculares periféricas, fadiga e sintomas
depressivos são relatados por alguns pacientes que os desenvolveram. Caso os
sintomas persistirem por mais de três meses, após o início da doença, estará
instalada a fase crônica.
Fase crônica
Persistindo os sintomas por mais de três meses, principalmente
dor articular e musculoesquelética e neuropática pode se caracterizar a fase
crônica. Entre os estudos e conforme as Recomendações da Sociedade Brasileira
de Reumatologia para diagnóstico e tratamento da febre ckikungunya a
prevalência da fase crônica é muito variável. Alguns fatores de risco para
cronificação estão associados à idade acima de 40 anos, sexo feminino,
diagnóstico de doença articular prévia como osteoartrite e presença de
comorbidade.
Além dessas manifestações, outras podem ser descritas nessa
fase, tais como fadiga, dor de cabeça, coceira, perda de cabelo, exantema, bursite(inflamação no ombro), inflamação nos dedos, diarreias, dormência das pernas e braços, dor neuropática, distúrbios do sono,
alterações de memória, déficit de atenção, alterações do humor, turvação visual
e depressão (BRASIL, 2017).
3 DIAGNÓSTICO
Para diagnosticar o CHIKV podem ser realizados testes
laboratoriais de forma direta, através do isolamento viral e da pesquisa do RNA
viral em diferentes amostras clínicas, ou de forma indireta através da pesquisa
de anticorpos específicos. (BRASIL, 2017).
Diagnóstico diferencial
Verificam-se sintomas típicos de Chikungunya também em
outras doenças virais especialmente na Dengue, conforme quadro abaixo:
Quadro 2: Diagnóstico diferencial Dengue x Zika x
Chikungunya.
Sinais/Sintomas
|
Dengue
|
Zika
|
Chikungunya
|
Febre
Duração
|
>
38°C
4
a 7 dias
|
Sem
febre ou subfebril (≤ 38°C)
1-2
dias subfebril
|
Febre
alta > 38°C
2-3
dias
|
Rash
Frequência
(rachadura na pele)
|
Surge
a partir do quarto dia
30%
a 50% dos casos
|
Surge
no primeiro ou segundo dia
90%
a 100% dos casos
|
Surge
2-5 dia
50%
dos casos
|
Milagia - dor muscular (frequência)
|
+++
|
++
|
+
|
Artralgia - dor articular (frequência)
|
+
|
++
|
+++
|
Intensidade
da dor articular
|
Leve
|
Leve/Moderada
|
Moderada/Intensa
|
Edema
da articulação
|
Raro
|
Frequente
e leve intensidade
|
Frequente
e de moderada a intenso
|
Conjuntivite
|
Raro
|
50%
a 90% dos casos
|
30%
|
Cefaleia
|
+++
|
++
|
++
|
Hipertrofia
ganglionar
|
+
|
+++
|
++
|
Discrasia
hemorrágica
|
++
|
ausente
|
+
|
Risco
de morte
|
+++
|
+*
|
++
|
Acometimento
Neurológico
|
+
|
+++
|
++
|
Leucopenia
|
+++
|
+++
|
+++
|
Linfopenia
|
Incomum
|
Incomum
|
Frequente
|
Trombocitopenia
|
+++
|
Ausente
(raro)
|
++
|
Fonte: Brito (2016 apud BRASIL, 2017).
4 ORIENTAÇÕES QUANTO AO TRATAMENTO
Não há, no momento, tratamento antiviral específico nem
vacina preventiva para a febre chikungunya, mesmo aumentando os números de
casos da doença. Por isso, o tratamento sintomático tradicional é utilizado.
(CASTRO; LIMA; NASCIMENTO, 2016).
Dessa forma, tratar a dor, controlar a febre, recomendar
repouso, evitar aparecimento de lesões articulares constitui-se o principal
objetivo do tratamento. Recomenda-se, aos pacientes a adotarem cuidados gerais
e fazerem uso de medicamentos como
antipiréticos e analgésicos.
Conforme orientações da Sociedade Brasileira de
Reumatologia, em sua revista 2017 o uso de ácido acetilsalicílico não é
recomendado devido ao risco de hemorragia e em alguns pacientes, o risco de
desenvolvimento de síndrome de Reye.
5 PREVENÇÃO
Na Revista Saúde Pública, Azevedo, Oliveira e Vasconcelos (2015),
afirma que a prevenção é feita por intermédio de medidas de proteção individual
e pelo controle vetorial. A maneira explosiva que a doença vem se manifestando
e um tratamento ou droga específica ausente, a vacinação deveria ser
estratégica mais efetiva na proteção da população. Entretanto, até o momento
não se dispõe de vacina efetiva e licenciada, mesmo que estudos sobre essa
possibilidade tenham iniciado em 1967.
Dessa forma, resta conscientizar o paciente quando ao uso
de roupas adequadas para cobrir extremidades e evitar contaminação com outros
vetores; mantê-lo repousando sob a proteção de mosquiteiros e principalmente,
retirar água parada de itens espalhados nas casas e arredores.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, Raimundo;
OLIVEIRA, Consuelo; VASCONCELOS, Pedro. Risco de Chikungunya para o Brasil. Rev. Saúde Pública,
São Paulo, v. 49, 2015.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Chikungunya: Manejo Clínico. Secretaria de Vigilância em Saúde, Secretaria
de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2017.
CASTRO, Anita Perpetua Carvalho Rocha
de; LIMA, Rafaela Araújo;
NASCIMENTO, Jedson dos Santos. Chikungunya:
a visão do clínico de dor. Rev. Dor, São
Paulo, v. 17, n. 4, 2016.
HONÓRIO, Nildimar et al. Chikungunya:
uma arbovirose em estabelecimento e expansão no Brasil. RJ: 2015.
MARQUES, C. D. L. et
al. Recomendações da Sociedade
Brasileira de Reumatologia para diagnóstico e tratamento da febre chikungunya. Rev bras reumatol, v. 57, n. S 2, p.
S421–S437, 2017.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE - OMS. Chikungunya. Ficha informativa. Abril, 2017.